sábado, 18 de julho de 2009

O roque da mulherada!

Observamos o evidente aumento de mulheres tocando em bandas e o surgimento de bandas apenas de mulheres, por essa razão convidamos a Panny - Vocal da banda Morgan Le Femme - para colocar a sua opinião sobre o polêmico e badalado assunto.



"A década é 1960. Cerca de 400 mulheres protestam contra a realização do concurso “Miss América”, queimando sutiãs, sapatos de salto, espartilhos, maquiagens e tudo o mais que a sociedade impunha às mulheres, explorando a beleza em uma visão destorcida e comercial. Na mesma época, mulheres de todo o mundo lutavam por igualdade e oportunidade em todos os setores da sociedade, como política, economia e arte. Nesse período era preciso abrir caminho à força, brigar por espaço e reconhecimento, mostrando a todos que ser mulher era um orgulho e não um fator de fraqueza.

Nesse mesmo contexto, a música explodia em uma onda de ritmos e cores, o rock’n’roll era a porta para que inúmeros artistas mostrassem seus talentos e, como em todos os outros ambientes, as mulheres também queriam igualdade no rock. Ver uma banda de mulheres tocando rock em 1960 certamente era motivo de surpresa, a ponto de nada na banda chamar mais atenção do que o fato de serem mulheres tocando. Agora, 50 anos depois, essa ainda é realidade?

O que se vê hoje em dia é a completa inversão dos valores que as mulheres de 60 defendiam. Quando uma banda rock de integrantes mulheres sobe no palco, o que vemos, muitas vezes, é o mais vasto repertório de minissaias e corpetes, maquiagem cobrindo todos os poros do rosto, saltos lhes deformando os pés e o discurso de sempre: “viemos mostrar que mulher também sabe fazer rock!”. Então começa o show e os bocejos: passaram tanto tempo se arrumando que esqueceram de aprender a tocar.

A questão é: Qual a necessidade de protestar por espaço agora, quando os caminhos para as mulheres no rock já estão abertos? Parece que elas fazem questão de que as pessoas se foquem no fato de serem mulheres para não exigir demais da música delas. Em minha opinião, uma banda com mulheres que explora unicamente o fato de serem mulheres na música faz o favor de humilhar todas as mulheres que realmente se esforçam por uma música bem feita. Elas dizem em entrelinhas “Somos mulheres e apesar disso tocamos!”

Talvez por esse motivo exista a ridícula designação “rock feminino”. Desde quando uma música pode ser definida pelos atributos físicos dos músicos que a executam? Não existe “rock canhoto”, “rock loiro”, “rock peito cabeludo”, da mesma forma que não deveria existir a expressão “rock feminino”. E o que mais impressiona é ver não só os homens usando tal expressão como também as mulheres, em slogans como “rock feminino de verdade!”, como se isso pudesse significar mais que o prazer visual das minissaias pros marmanjos do público.

O momento agora é de arregaçar as mangas e exercer a igualdade. Ser mulher não limita em nada o desempenho da música e da mensagem de uma banda, de forma que é quase pejorativo promover shows de “rock feminino” uma vez que esse detalhe não deveria ser relevante numa sociedade igualitária. Não há razão para protestar contra o suposto “preconceito”, já que as próprias mulheres são responsáveis por isso quando se colocam para o público da mesma forma que uma banda de macacos treinados. “Impressionante! São macacos! E tocam quase perfeitinho!”

A esperança é que num futuro próximo as pessoas se desapeguem desse dogma que diz que mulher no rock precisa protestar por alguma coisa e se libertem desse resquício feminista das décadas passadas. Se existe pouca mulher no rock é por falta de interesse da parte delas, pois já não há mais empecilhos reais. A música é um prazer sem restrições de gênero. Quem realmente ama a música é livre para executá-la, seja mulher, homem ou macaco."

Panny - Vocal da banda Morgan Le Femme

Um comentário:

Lisandra disse...

Excelente ponto de vista!
Mas acredito que algumas vezes a expressão 'rock feminino' seja usada não com o intuito de segregar, e sim de fazer brilhar seu principal diferencial, pois o cenário rock ainda é bastante masculino e temos sim, mulheres que ingressam nessa reforçando atributos como a sexualidade e sensualidade, deixando o fator música em segundo plano.
O que não é - nem de longe - o caso da Morgan. Uma banda com ótima qualidade musical e sem a postura equivocada da rebeldia descabida. Além de ótimas artistas, as gurias tb são lindas!