quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Entrevista Ticiano Paludo




Marquise - Olá, Ticiano, tudo bem? Pra início de conversa e pro leitor saber sobre o que se trata essa entrevista, fala um pouco sobre o teu trabalho pra gente.

Paludo - Bah! Faço tantas coisas que daria pra escrever um livro nessa resposta, (risos!).
Bom, resumindo, atuo no mercado musical desde a década de 80, dou aulas na FAMECOS/PUCRS, escrevo para a Backstage, para o portal de e-music PoaBeat! e sou um dos produtores musicais mais premiados do estado.
Aconselho o pessoal a visitar o meu myspace www.myspace.com/ticianopaludo e o meu hotsite http://www.eproducer.com.br/.
Leiam mais nos sites indicados. Vocês vão curtir!


Marquise – E como começou tua carreira de produtor musical?

Paludo - Como eu disse antes, comecei a tocar na metade final dos anos 80. Comecei sem pretensão nenhuma apenas por prazer (ao contrário de hoje que o cara monta uma banda pensando apenas em sucesso e fama). Porém sempre estudei música e fui abrindo cada vez mais minha mente, tanto que hoje consigo adorar Zezé Di Camargo & Luciano e Sepultura ao mesmo tempo. A profissionalização de fato e reconhecimento se deram nos últimos 8 ou 10 anos. Aprendi muito compondo trilhas publicitárias para dança, teatro, cinema, moda, web e vídeo. Também aprendi bastante tocando, fui fundador da Titânio - uma das bandas de metal que mais se destacaram aqui no sul nos anos 90 - hoje não deixo de trabalhar com rock, mas trabalho principalmente com pop e e-music. Como músico, tenho meu projeto próprio de Live PA chamado Lounge TP.

Marquise - Quais são as dificuldades que tu mais encontra nas produções?

Paludo - Aqui em Porto Alegre, desculpe dizer, a burrice das bandas em todos os sentidos. A maioria que me procura tem um trabalho fraco, enfadonho - tanto que antes de dar qualquer orçamento primeiro eu ouço o artista, se me interessar daí falamos de grana e produção - as pessoas também acham que produzir um disco não custa nada, custa sim! Pelo menos envolvendo profissionais verdadeiros, e não curiosos que se intitulam produtores.
Embora não deixe de produzir artistas locais, meu foco é o mercado exterior, principalmente Londres, porque as bandas daqui não entendem nada de mercado (e acham que entendem tudo), não enxergam a música como negócio e arte - não apenas como arte - tem uma resistência incrível na utilização da tecnologia principalmente (sampler e teclados) e acham que o fato de simplesmente gravar usando um AMP Valvulado ou fazendo roquinho inglês-portoalegrês resolve o problema. A prova que não resolve é a quantidade de bandas amargando o fato de apenas ser mais uma.
Mas não me irrito mais com isso, estou numa fase confortável da minha carreira na qual eu escolho com quem quero trabalhar, e a grande maioria dos artistas com os quais tenho trabalhado têm a mente aberta, sabem bem como funciona o mercado de fato.

Marquise - Como analisas a cena independente hoje em dia?

Paludo - O termo independente é uma ilusão. Tudo depende de tudo, a grande maioria que está no underground quer mesmo é ir para o mainstream. No entanto principalmente com a web, novas janelas se abriram, por outro lado, a construção da carreira artística está cada vez mais difícil, o público não quer pagar por nada, nem por shows nem por álbuns físicos ou virtuais. A construção mítica do artista está dureza, a tecnologia fez com que um boom enorme de gente sem talento entupisse os canais de divulgação (como o myspace, por exemplo) e isso é ruim, pois existem milhares de trabalhos chatos e mal feitos tirando a atenção do ouvinte (que fica de saco cheio e acaba se contentando com o que o mainstream oferece). Mas com persistência, amor ao que se faz talento e planejamento, uma carreira ainda pode decolar, afinal, dificuldades sempre existiram.

Marquise - Como são as tuas parcerias com os selos europeus?

Paludo - Na verdade não tem parceria nenhuma, é negócio puro mesmo. Eu tenho o meu selo - Wav Label - por ele lanço minhas produções através de licenciamento. Desse modo já coloquei trabalhos em Londres, Tóquio e Estados Unidos. Nesse ano, devo investir mais pesado em um álbum que estou produzindo e contratar um distribuidor digital, assim entrarei em países como Bélgica, França e Alemanha.

Marquise - Tem algum grupo novo que tu goste ou aposte como uma grata surpresa na atual cena rock de Porto Alegre?

Paludo – Porto Alegre sempre teve ótimos músicos roqueiros. Mas tá cheio de bandas ruins! Claro que ainda existem algumas coisas boas de ouvir, uma banda que escutei recentemente e que me agradou muito foi a Revoltz - http://www.revoltz.com.br - Creio que tenha sido o Astronauta Pingüim quem produziu esse trampo - Acho excelente! Também estou plenamente satisfeito com uma banda inventiva que estou produzindo chamada O Fio - www.myspace.com/ofio - Ah! Gosto muito dos guris da Apanhador Só (devo produzir um remix para eles em breve).

Marquise - Tu remixou duas músicas do Júpiter Maçã. Como foi trabalhar com ele?

Paludo - Estou cumprindo uma feliz peregrinação de trabalhar com artistas que sempre admirei. Comecei com o Arrigo Barnabé e na seqüência veio o Júpiter, eu amo ele! Acho ele fantástico, mas ele é uma figura... né? Ele veio aqui em casa há alguns anos e a gente conversou de produzir algumas coisas, depois ele sumiu, foi pra Londres. Lá ele ouviu falar de mim e veio me procurar, então se deu conta de que já tínhamos conversado - típico dele – (risos). O resultado do trabalho ficou excelente embora o público conservador dele tenha me cruxificado. Resumindo, foi ótimo ter trabalhado com ele e espero repetir a dose logo, até porque, ao contrário do público careta, ele amou o resultado (que já foi lançado em Londres e fará parte do meu disco novo).

Marquise - Projetos futuros?

Paludo - Não posso me queixar, estou com a agenda entupida de trabalho. Estou produzindo o CD do Ofio, Clarissa Mombelli, Puerto, Derivados e mais algumas coisas minhas. Em breve devo trabalhar com uma ótima cantora chamada Nalanda. Recentemente produzi remixes pra Paris e Ilinóis e devo produzir alguns remixes para o mainstream até o fim do ano. Fiz a trilha do espetáculo de dança "Mulheres Fortes em Corpos Frágeis" (do Grupo Gaia) e para o filme "Segura Na Mão de Deus". Além das aulas na FAMECOS (publicidade e jornalismo), o curso de produção musical que implantei lá está sempre lotado e com lista de espera. Estou fazendo meu mestrado orientado pelo Carlos Gerbase, analisando o impacto das novas tecnologias na produção e circulação da música. Enfim, haja fôlego!
Abração e até a próxima!

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